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Empresária, que tratava Bernardo como se fosse filho, foi a primeira testemunha a depor no segundo dia de julgamento
12 março 2019 - 15h04
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CASO BERNARDO

Juçara Petry foi a primeira testemunha da sessão desta terça-feira (12), que começou logo após as 9h e entrou em intervalo por volta das 11h50min. A mulher que Bernardo queria ter como mãe contou tudo que faltava na vida do menino e como a família Petry tentou amenizar as ausências.
Ela relatou que Bernardo andava malvestido, passava frio, fome, não tinha material escolar, não tinha uniforme, não ganhava janta, não recebia atenção em datas festivas como Natal, aniversário, apresentações da escola. Passava dias fora de casa. Em apenas duas ocasiões em que a madrasta Graciele Ugulini enviou malas de roupa, nada podia ser aproveitado. Roupas e calçados não serviam. E era no roupeiro de Juçara que o menino encontrava peças para quebrar o galho. Usava faceiro.
— A gente tinha amor por ele, era pessoa da família, a gente queria cuidar como um filho — desabafou Juçara.
A rotina do menino de perambular de casa em casa fez o casal providenciar um telefone para Bernardo. O marido de Juçara, Carlos, pegou um aparelho velho, providenciou a confecção de CPF para poder comprar um chip em nome do menino e criou uma agenda com os números dos Petry já registrados com a possibilidade de ligação a cobrar.
— A gente queria ajudar, dar a possibilidade de ele nos chamar quando precisasse — diz a empresária.
E Bernardo chamava. Em uma oportunidade, noite e temporal forte, ele ligou porque estava saindo de uma consulta ao oftalmologista. Os Petry o buscaram. Juçara disse que tentavam fazer com que ele convivesse com a família, ficasse mais em casa:— Ele dizia: "Eu odeio minha casa".

Sobre o que não percebeu, por não ter sabido da real situação de risco do menino, Juçara ponderou:
Eu achava que o pai não dava atenção porque estava trabalhando muito. Na minha cabeça, o pai não cuidava porque estava no hospital. Mas não era, ele não tinha amor.
Apesar do descaso, Juçara lembra que Bernardo defendia o pai, dizia que Boldrini estava "salvando vidas". A empresária também notava que o menino sentia falta do pai, ficava triste quando não podia vê-lo. Lembrou de quando Boldrini sofreu acidente e ficou hospitalizado:
— Ficou 15 dias na nossa casa e ninguém ligava. Estava triste, queria ver o pai. O Carlinos (Carlos, marido de Juçara) ficou brabo e decidiu levar. E aí deixaram ele entrar e ver o pai.
Outra ocasião de muita tristeza para Bernardo foi a falta do pai na primeira comunhão. Pai e madrasta viajaram naquele final de semana e os Petry compraram roupa e tênis para o menino participar da comunhão. Depois, foi feito almoço. Mas Bernardo aparentava tristeza.
Juçara contou que quando precisava contatar pai ou madrasta não conseguia. Insistia, mas eles não atendiam ao telefone. Chegava ao ponto de o casal ir até a residência dos Boldrini para poder conseguir contato. Também foi lembrado nas perguntas dos promotores o fato de Bernardo não ter as chaves e o controle do portão de casa.
Compramos mochila para o colégio e tinha "lugar secreto" para ele guardar chave e controle e celular. Mas ele estava sempre sem.
Juçara chorou ao lembrar de um episódio de estudo de Bernardo. Ele errou exercícios de tabuada. Juçara disse que ele sabia o conteúdo. E o menino confessou:
— Se eu acertar o tio Carlinhos não vai mais estudar comigo.
Sobre o vídeo gravado por Boldrini em que Bernardo aparece agressivo, a empresária atestou:
— Era um guri dócil e obediente, diferente de como aparecia naquele vídeo. Deve ter sofrido muita pressão. Eu ia lavar louça e ele já pegava pano para ajudar.
Sobre cuidados médicos, Juçara lembrou dos problemas com aparelho dentário. Em um sábado perto do Natal, Bernardo acordou na casa de Juçara com a boca sangrando. Ela fez várias ligações para a madrasta para saber quem poderia atendê-lo. E ouviu de Graciele:
— Esse guri é um estorvo. Só incomoda. Que vá à merda e fure a boca.
O filho de Juçara buscou socorro. Um dentista atendeu Bernardo. O conserto do aparelho ficou como presente de Natal.
QUESTIONAMENTOS
Por volta das 10h30min, as defesas começaram a questionar Juçara. Advogados reclamaram à juíza sobre manifestações do Ministério Público (MP), mais especificamente por parte do promotor Ederson Vieira, que chegou a afirmar que a defesa era capaz de dizer que Juçara era responsável pela morte do menino.
Ao longo dos questionamentos, a defesa de Boldrini tentou demonstrar que o pai mantinha contato frequente com o filho e que fazia ligações aos finais de semana quando Bernardo estava na casa dos Petry. Juçara afirmou que o menino ficava na casa dela sem ser procurado pela família. Foi listada pela defesa uma série de ligações ou tentativas de ligações que teriam sido feitas entre pai e filho.
Um dos advogados de Boldrini, Ezequiel Vetoretti também questionou sobre as afirmações de que o menino não teria lanche ou jantar em casa. Sustentou que empregadas da residência — que eram quatro — faziam comida e lanche.
Já Rodrigo Grecelle perguntou se era uma percepção de Juçara a afirmação de que o pai não tinha amor pelo filho. Ela respondeu:
— Pai que não dá roupa e não dá comida não tem amor, né?
Quase uma hora depois, foi a vez do advogado de Graciele, Vanderlei Pompeo de Mattos, perguntar. Quis saber se Juçara conhecia Graciele ou a rotina da casa. Também questionou se ela sabia de agressividade de Bernardo na escola e contra colegas. Juçara disse desconhecer. O advogado destacou um depoimento em que era dito que Bernardo andava bem-vestido. A empresária disse que o via sempre malvestido.
Pompeo de Mattos questionou se Juçara nunca pensou em contatar familiares de Bernardo ou o Conselho Tutelar para falar sobre a situação que ele vivia. Ela disse que não tinha que se meter na rotina de uma família que estava se formando.
Defensores de Edelvânia Wirganovicz fez crítica ao Judiciário e ao Ministério Público, dizendo que podiam ter feito mais pelo menino.
Defesa de Evandro, irmão de Edelvânia, não fez perguntas. O advogado Luiz Geraldo Gomes dos Santos sustenta que Evandro não participou do crime:
— Ele vai responder a todas as perguntas, vai colocar os jurados ao par da situação dele. Está preso injustamente.
Para o advogado, houve erros durante o inquérito policial e, posteriormente, na denúncia.
— Em menos de um mês parte de ocultação de cadáver para homicídio. Mas entendo que não há nem ocultação. (Evandro) Foi vinculado aos fatos num exercício de imaginação da polícia. Ele estava no local errado e na hora errada — afirma.
O subprocurador-geral para Assuntos Institucionais do MP, Marcelo Dornelles, disse ao final da sessão que o MP sempre teve convicção da culpa dos réus e fez a acusação com base em provas robustas.

DEPOIMENTO
Quem era Bernardo, na visão de Juçara Petry (promotor Ederson Vieira pediu que ela descrevesse o menino):
“Bernardo era criança franzina, meiga, honesta. Se dava cinco reais para lanche, voltava com troco. Nunca levantou uma palavra, a voz, para ninguém. Dócil, queria que as pessoas se sentissem bem ao lado dele, era uma pessoa do bem, jamais foi explosivo. Corria na frente para abrir porta do carro para mim, pegava sacola do mercado. Se fosse esquizofrênico, uma hora ia explodir. Mas nunca. Queria carinho, colo. Ele fez meu Facebook para poder falar comigo. Pedia para dormir no nosso 'meinho'. Era uma pessoa boa, do bem”.

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